ENVELHECER

Por Leandro Bertoldo Silva

O relógio soou naquela manhã diferente dos outros dias. Não pelo som, exatamente igual há tantos anos a se repetir metodicamente, mas na atmosfera daquele momento.

A sensação foi de não ter dormido, e sim de ter passado de um segundo a outro. Mal olhou para a janela escura pela noite lá de fora e, sem sequer mover um músculo e apenas piscar, o que era noite virou dia. Levou um tempo a entender tão brusca mudança na claridade do quarto. A sua volta, tudo igual: as mesmas dobras do lençol, a mesma posição das suas mãos ao tocarem de leve o travesseiro. Apenas a luz a revelar com evidência os objetos na penumbra de outrora.

 Como pôde?

Na verdade, só conseguiu entender quando, ao se levantar, o seu corpo, antes cheio de viço e elasticidade, mostrava-se agora mais enrijecido e calmo. As mãos de há pouco se apresentavam com algumas saliências de veias antes inexistentes. Ao olhar-se pelo espelho da parede, lembrou-se do retrato de Cecília, mas sem tristezas e amarguras por não dar-se às mudanças tão simples e certeiras. Havia envelhecido.

Em um brilho momentâneo tudo se assentou, assim mesmo calmo e sem excessos. Sentou-se à escrivaninha e em seu caderno de anotações curiosamente desgastado e com mais páginas preenchidas, acrescentou:

O envelhecer
é um suspiro do tempo
que descansa em mim.

E seguiu os seus dias.

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É incrível como a natureza nos ensina os caminhos da vida. A folha da imagem que ilustra essa pequena história havia acabado de se soltar em meio a tantas outras verdes e novas. Isso aconteceu no exato momento em que eu me sentei à sombra dos ramos que as sustentavam. A beleza desse acontecimento não deixou que eu o mantivesse apenas para mim…

Um forte abraço.

Até a próxima.

POR MUITOS OLHOS SOLARES

Por Patrícia Vaucher*

Hoje o dia está nublado. Mais um. Há pouco começou a chover fraquinho. Cedinho os helicópteros reiniciaram seus voos.

Recebi a ligação de uma amiga que mora longe. Preocupada com a situação, ela, cheia de dúvidas e indagações sobre a vida, questionou-me indiretamente sobre o bem e o mal. Não seria essa tragédia uma ação do bem para que a humanidade acorde? Resposta pra isso não tenho, mas percebo que esse evento está despertando muitas almas, a minha e a dela também!

Há dois dias bateu aqui em casa um casal de desabrigados. Vieram de Mathias Velho. Casa inundada, sem teto, duas filhas, muito medo e tristeza. Estão morando nas ruas. Aliás, numa avenida aqui perto em uma barraca. Tiveram uma experiência não muito boa num abrigo. Lutam por uma casa para retomarem suas vidas e abrigarem suas duas filhas que estão sob os cuidados de uma senhora. Foram avisados que terão que buscar as meninas hoje. Abrigo não querem. Têm a firmeza de quem muito lutou por seu lugar e não aceitam que as águas levem a força interior empregada no enorme esforço que fizeram na conquista de um terreno e uma casa humilde em Canoas. Com orgulho fincaram os pés no chão sem perder a esperança, na certeza de que conseguiriam a casinha alugada. A correnteza não os arrastou. Falta pouco pra conseguir o valor do aluguel, disseram-me na esperança de que eu o completasse. Perguntei sobre as habilidades deles. Faxina, pintura, fazemos qualquer coisa. Dei alguns alimentos e um celular que estava parado aqui. Retornaram para casa, digo, rua.

Em casa assistindo tanta tragédia pela TV, sentia a vontade de fazer algo para ajudar. Abrigos dispensaram-me, pois os voluntários são muitos. Penso que algo surgirá no tempo certo, porque as demandas após o “incêndio” serão numerosas. Pensei então que esse casal talvez seja uma boa oportunidade de fazer minha parte. Eles não sabem, mas dou uma monitorada neles diariamente passando de carro em frente à barraca que montaram em plena avenida. Pensei muito neles, vontade de abrigá-los, dar trabalho, esperança. Pedi que me dessem o número do celular quando conseguissem um número para o aparelho que entreguei.

Tive notícias hoje. Eles vieram aqui desesperados com a situação das filhas. Têm que buscá-las até as 13 horas. Entendi tanta aflição quando me perguntaram várias vezes as horas por volta das 10:45. Vieram pedir socorro. Precisam completar o tal valor do aluguel. Combinamos que me pagariam amanhã com serviço doméstico o valor que precisam agora. Mas, não resolvo sozinha. Pedi um momento para conversar com meu marido sobre isso. Retornei com a resposta e, olhando aquelas faces acinzentadas pela dor vi um brilho iluminando os olhos como se o sol tivesse aparecido subitamente por de trás das nuvens quando disse:

— Vou confiar em vocês!

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Patrícia Vaucher é escritora, Bacharel em Administração de Empresas, pós graduada em Arteterapia e  em  Psicologia Analítica. Facilitadora de Soulcollage. Trabalhou com cerâmica artística por mais de vinte anos em atelier próprio.  Conduz grupos de mulheres através do trabalho terapêutico com argila e Soulcollage. Pesquisa o Feminino na individuação e sua influência no processo de ampliação da consciência. Reside em Porto Alegre/RS.

Um forte abraço.

Até a próxima.

MUITO ALÉM DA COSTURA

Por Leandro Bertoldo Silva

Existem alguns “bichinhos” a picar a gente, mas, diferente daqueles a nos fazerem mal, esses fazem bem. Estou a falar de um deles: o bichinho da encadernação.

Desde criança, ao passar pela adolescência e até hoje em minha fase adulta sempre gostei de cadernos.

Lembro-me de um caderno brochura, capa de papel onde tinha um desenho de um tucano em meio a folhagens coloridas. Eu tinha 7 anos. Esse caderno ficava no guarda-roupa da minha avó e era onde ela anotava números de telefones. Nunca a imagem desse caderno saiu da minha cabeça. Adorava folheá-lo e admirar a capa.

O tempo passou e até hoje difícil é entrar em uma papelaria e não sair com um Caderno e muitas canetas…

Bem, as canetas continuam, mas os cadernos amenizaram um pouco o bolso (rsrsrs) a partir do momento que passei a confeccioná-los, daí o bichinho a me picar. O interessante desse contágio do bem é que os sintomas só aumentam e cada vez mais cadernos aparecem e fazem parte do repertório da alquimia da confecção. Sim, alquimia! O organizar os materiais, como linhas, agulhas, papéis, papelão, suvelas, réguas, estiletes, berço de furação, e tantos outros apetrechos, vê-los ali dispostos e já imaginar o caderno feito, é uma prática mística para mim ao florescer, como na Idade Média, arte, ciência e magia. Sem contar que um dos principais objetivos dela é obter o elixir da vida, a fim de garantir a imortalidade. E o que é um caderno se não um lugar para se eternizar através das palavras e desenhos? Não por acaso, gosto de deixar claro: não faço cadernos; faço, antes, suportes de sonhos.

Como tudo evolui, sigo a aprimorar essa artesania e a cada dia busco aprender uma costura nova, um ponto diferente.

Para mim, o mais encantador na encadernação artesanal é ela ir muito além da costura. Existem histórias contadas por trás de cada ponto. Eu, como escritor, prezo sempre pela arte de uma boa história e a junção de tudo isso me levou à apaixonante costura copta, uma técnica combinada de beleza, elegância, versatilidade e uma tradição milenar ao resgatar a riquíssima cultura egípcia associando-a à contemporaneidade.

A costura copta ganhou esse nome por ter sido criada pelo povo Copta, uma antiga civilização cristã no antigo Egito, com a finalidade de montar os primeiros evangelhos bíblicos. Era preciso deixar as folhas presas, porém com flexibilidade para a obra ser lida com facilidade por muitos anos. Nasce, assim, uma técnica hoje vista como uma das artes mais elegantes da encadernação. Rústica, ao mesmo tempo clássica, milenar sem nunca perder a originalidade, essa forma de costura possibilita o caderno abrir 360 graus. Não há colagem, as capas são presas nos cadernos em linha trançada e deixa o visual parecido com o de correntes.

Encadernação sofisticada atravessou os tempos e hoje existe como profunda expressão artística, tamanha a variedade de cores e estilos.

Fazer cadernos é ser uma espécie de construtor de alicerces, onde histórias são edificadas; fazer um caderno já possuidor delas é preservar memórias. Quando as duas coisas se juntam, algo de muita grandeza realmente acontece.

Essa é a razão principal de um caderno existir. Por mais que a tecnologia modernizou a escrita, os cadernos acolhem sentimentos, paixões, amores, dores, sabores de uma maneira a fazer da alma de quem escreve uma certeza de ser.

Receitas, poesias, reminiscências, orações… São tantas palavras a se fazerem presentes nas folhas de papel, onde a linha e a agulha fazem um apólogo diferente ao se entenderem construtoras da eternidade.

Sejamos, pois, visionários. Tenha um caderno, encontre o seu lápis e escreva a sua história no mundo.

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A Árvore das Letras está sempre presente em eventos literários e feiras de artesanato com uma grande variedade de cadernos e livros. Também mantemos atendimentos de demanda e encomendas, além de encontros e oficinas. Entre em contato, conheça nossos trabalhos.

Um forte abraço.

Até a próxima.

HUMBI HUMBI

Por Tomé Nassapulo*
(Angola)

Na tarimba, não marimbo
Mais zimbo!

Que nem marimbondo dançando ao som da kizomba
Sem marimba.

Da Mutamba ao Balombo
Bumbando sem lombongo
Diante do ongongo!

Prolongo a minha crença no Nzambi.

Ombambi não me apanha porque bumbo
Que nem kazumbi sedento de omwenho.

Hum, humbi
É a canção que me bimbarra para as kazukutas do kimbo.

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SIGNIFICADO DE ALGUMAS PALAVRAS DO TEXTO

  • Humbi: termo pertencente a língua umbundo, uma das línguas bantu, falada pelo povo ovimbundo que habita na região centro sul de Angola, o termo refere-se a uma ave de grande voo.
  • Zimbo: Concha univalve encontrada na orla marítima que serviu de moeda no Reino do Congo.
  • Marimbondo: insecto da família dos vespídeos que apresentam ferrão em sua estrutura, utilizando o órgão como defesa perante ameaça. O termo teve uma evolução semântica em Angola nos últimos anos, para referir-se a todos aqueles que terão se aproveitado das funções governativas para açambarcar o erário público.
  • Kizomba: termo surgido a partir do Kimbundo «kuzomba» que se significa festa, divertimento. O termo evoluiu semanticamente para ritmo africano, de origem angolana, referindo-se também a dança executada ao som desse ritmo.
  • Mutamba: centro da cidade de Luanda, onde se localizam instituições públicas e comerciais.
  • Balombo: município da província litorânea de Benguela que dista da Mutamba a 627,7km.
  • Marimba: instrumento musical formada por lâminas de vidro ou metal, graduados em escala, que se percutem com martelinhos de madeira.
  • Lombongo: termo da língua umbundo que se refere a dinheiro.
  • Ongongo: termo da língua umbundo que se refere a sofrimento ou dificuldade.
  • Nzambi: termo da língua Kimbundu que se refere a Deus.
  • Ombambi: termo na língua umbundo que se refere a frio.
  • Bumbo: flexão do verbo bumbar na primeira pessoa do singular do presente indicativo, sendo que a expressão bumbar na gíria angolana é sinónimo de trabalhar duro.
  • Kazumbi: palavra formada pelo processo da derivação por prefixação «Ka+zumbi», sendo o prefixo ʽʽKaʼʼ usado como diminutivo na língua Kimbundu ou umbundo e ʽʽzumbiʼʼ surgido do Kimbundu nzúmbi, com o sentido de indivíduo morto mas que reaparece as noites, a alma do outro mundo.
  • Omwenho: termo da língua umbundo que refere-se a palavra vida.
  • Kazukuta: expressão em Kimbundo referindo-se a dança movimentada, tendo o sentido semântico de indisciplina social ou anarquia.
  • Kimbo: termo surgido do umbundo ʽʽKo imboʼʼ, referindo-se a povoado ou sanzala.                       

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Tomé Nassapulo é angolano, poeta, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

CANÇÃO DO CHORO

Por Mangel Faria*
(Angola)

Aventura na brisa do canto
beija a melodia do pranto
amortece o cortiço da mulher
no olhar do sopro

Fervilha no sangue da existência…
adormece no fogo das paixões
e morre
no desejo juvenil da noite

A canção do choro
matou o sabor do vento
quando viu cair as lágrimas
no fel das almas

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Mangel Faria é angolano, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

NO MEIO DO CAMINHO

Por Leandro Bertoldo Silva

Tudo era sempre igual para o senhor Todo Dia. Sua vida desconhecia pausas e era desprovida de sorrisos. Todo ele era um endurecer de pedra. Faltava-lhe tempo de ser quem gostaria, ou nem sequer o sabia; tornara-se doente dos sentidos.

Com isso, não percebia nada além do cinza. Seus olhos desacostumaram-se das cores. O corre-corre do trabalho, das obrigações cada vez mais exigentes faziam de Todo Dia alguém a passar bem longe  da alegria das coisas valiosas. Engraçado, todas elas eram desimportantes: o cantar dos pássaros de manhã ao saldar o sol, o cheiro do dia impregnado na brisa suave das primeiras horas, o zum, zum, zum das abelhas com suas patinhas carregadas de pólen a visitar aromas, e tantas inutilidades despercebidas para o senso comum.

Porém, um dia, sem nem saber o porquê, algo o fez olhar para cima exatamente no lugar onde sempre passava com os olhos colados ao chão a procura de uma poesia perdida. Bem no alto, lá estava junto a duas espécies de flores a destacar em igual vermelho e branco uma ordem: Pare! Imediatamente, obedeceu ao imperativo daquele momento e tudo se coloriu instantaneamente. Havia encontrado seus versos:

No meio do caminho…
Bem, não havia pedras,
havia flores.

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A foto acima foi tirada durante uma caminhada. É impressionante o que está ao nosso alcance quando estamos sadios dos sentido…

Um forte abraço.
Até a próxima.

A PSICANETA

Por Ricardo Albino*

Não estou maluco! Apenas fui convidado a psicografar uma viagem ao lado da minha caneta. Ao receber o convite para visitar a cidade da escrita e rever minha letra, em princípio dei risada. Depois, fechei os olhos, segurei de leve na pontinha da pretinha, como ela gosta de ser carinhosamente chamada, e voamos do papel. Cheguei a um lugar grande e colorido. Minha letra foi me vendo e logo perguntou:

— Lembra-se de mim, Ric?

Tomei um susto! Apesar do tempão que a gente não se encontrava pessoal e manualmente, ela estava igual aos tempos de escola. Cresceu só um pouquinho. Minha mão direita suava e a minha baixinha linda tremia na folha de emoção e raiva também. Escreveu meio desgovernada porque eu a troquei pela tecla do celular. Por isso solicitei a ajuda da psicaneta para explicar que o motivo da troca foi apenas visual para que eu pudesse enxergar melhor. Aos poucos, letrinha foi se acalmando e chamou todo o alfabeto para junto de mim e de minha nova caneta de estimação, para irmos à casa fabulosa da imaginação, onde moram livros e histórias de todos os tamanhos e estilos. Livros e histórias que amam voar até os corações do mundo pelas asas da Dona Arte.

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Ricardo Albino é jornalista, escritor, contador de histórias e correspondente da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

USAR A POESIA COMO FOCO DE MEDITAÇÃO? SIM, É POSSÍVEL!

Por Leandro Bertoldo Silva

Você já parou para pensar na delicadeza de uma poesia, no valor dos seus versos, na cadência do seu ritmo?

Se você é um leitor ou leitora sensível, apreciador ou apreciadora da arte e do belo, tenho certeza da sua resposta positiva.

Mas…

Sabia ser possível ir além do puramente estético ou artístico e se alinhar com algo mais sensitivo capaz de transformar a sua realidade e, consequentemente, o seu bem-estar e até a sua saúde e os seus relacionamentos? Uma maneira de ir além das palavras e conectar com a sua essência?

Pois então continue a ler este texto para conhecer uma forma diferente de se envolver com a poesia. Como? Absorvendo-a como prática meditativa.

Mas antes é preciso dizer uma coisa!

Sim, eu uso a meditação já há alguns anos em tudo que eu faço. Antes mesmo de ler ou de escrever uma história, antes de costurar um livro ou caderno ou mesmo iniciar uma aula com os meus alunos, seja presencial ou online, eu sempre reservo alguns minutos para me preparar e focar emocionalmente naquela tarefa a ser realizada.

Quem é ou já foi aluno ou aluna da Árvore das Letras sabe bem disso. É comum iniciamos os nossos encontros com a prática da meditação e do relaxamento, sejam adultos ou crianças.

Como eu disse, já vinha com essa prática há algum tempo, mas foi em um congresso de educação onde isso se fortaleceu em mim e passou a fazer parte integralmente do meu costume e a se tornar não mais algo feito de vez em quando, mas um hábito.

Na ocasião, assisti a uma palestra de um professor japonês — não por acaso — onde o mesmo relatava o fato de utilizar os primeiros instantes das aulas para meditar com os seus alunos. Era questão de cinco minutos em que todos ficavam em completo silêncio, às vezes com uma música suave de fundo, agindo como um foco de atenção — falarei sobre isso em instantes… Segundo o professor, tal exercício influenciava diretamente o comportamento dos alunos, tornando-os mais sociáveis e sensíveis ao se relacionarem uns com os outros, com significativa redução da ansiedade, stress e de qualquer comportamento violento e de conflito, aumentando a concentração, além da melhora significativa do aprendizado e das notas escolares.

Hoje, muitas escolas fazem uso dessa prática, mas o número poderia ser bem maior. Não tenho dúvidas do tamanho do benefício a ser alcançado, principalmente ao se tratar de questões como a redução da violência, tanto em relação aos próprios alunos, como em relação também aos professores.

Mas onde está a poesia?

Calma, chegaremos lá. Para isso é preciso entender primeiro o que é meditação. Embora na verdade isso seja um equívoco, porque meditação não se explica; meditação se pratica. Qualquer tentativa nesse sentido é em vão. Mas como somos ávidos por conceitos, fui atrás de uma salvação. De tantas buscas feitas, encontrei para mim o mais adequado e satisfatório e espero ser para você também.

Estava nessa busca quando, em uma livraria, meus dedos ao percorrerem uma fileira de livros em uma estante se depararam com o título: “O Melhor Guia para a Meditação”, de Victor N. Davich, um livro perfeito para quem quer reduzir o stress, para quem já pratica a meditação e quer aprender novas técnicas, ou para quem está só curioso.

Curioso… Peguei o livro e, ao folheá-lo, lá estava: “Meditação é a arte de se abrir a cada momento com consciência calma”.

Caramba! É isso!

Bem, não falarei do como o livro me foi e é útil até hoje, e lá se vão mais de 20 anos…

Tampouco do como ele desmitifica a meditação como algo transcendental e a coloca bem ao alcance de nossas mãos como pratica normal do dia a dia.

O importante é dizer sobre o foco de meditação. Lembra-se da música suave dita acima? Pois é, segundo o autor, a ideia de “parar de pensar” atribuída à meditação é algo totalmente impossível (ufa! Ainda bem!). O melhor é abrandar os pensamentos, acolhê-los, mas não retê-los. Em outras palavras, ter consciência deles e deixá-los ir. Ele faz, inclusive, alusão àquelas portas de vaivém dos filmes de Bang Bang, isto é, os pensamentos vêm e vão, assim como a nossa respiração. Quanto mais focar sua atenção em uma única coisa, mais evitará a enxurrada de pensamentos e, consequentemente, relaxamos e nos abrimos a cada momento com consciência calma. Viva! Meditamos!

E é aqui que entra a poesia. Ainda não percebeu?

Vejamos! Se precisamos focar em algo para abrandar os nossos pensamentos, esse algo pode ser o som de um instrumento específico de uma música, assim como pode ser simplesmente a nossa respiração, ou mesmo a chama de uma vela ou um pontinho preto na parede. Se pode ser tudo isso, e sim, pode, por que não a poesia?

Ora, calma lá! Não estou dizendo das palavras, mas o que está além delas, ou seja, a sensação, ou, melhor dizendo, a sua essência.

Obviamente, toda poesia nos proporciona isso. Defendo, a respeito da poesia, em ser ela o próprio Eu e uma forma de autoconhecimento. E muitas vezes esse autoconhecimento vem a partir da apreciação da natureza, seja interna ou externa, como as árvores, os pássaros, o vento, os sons, as flores e estrelas. Passar um tempo em total conexão com esses elementos simples do dia a dia nos faz sentir o momento de um instante.

Como eu disse, toda poesia nos proporciona essas sensações, mas há uma específica que nos mantém totalmente imersos nesses sentimentos: o haicai. Já falei dele aqui neste blog, mas o menciono novamente não apenas pela sua simplicidade, mas por ser a própria expressão do autoconhecimento, uma vez ser ele a representação do agora, do momento, do instante.

E o que é tudo isso senão a prática meditativa? O abrir-se a cada momento com consciência calma?

Sim, mostrarei uma forma de usar a poesia — especificamente o haicai — como forma de meditar.

Para isso, é preciso enxergar os poemas de uma forma dinâmica e sensitiva, cuja leitura proporciona  conhecimentos de si mesmo.

Ler os poemas é um mergulho que você leva para a sua vida no dia a dia, passando por três etapas: pela leitura, não para aumentar conhecimento, mas para encontrar você mesmo na palavra; pela entrega, deixando a palavra cair no coração, aceitando-a simplesmente; gestação, que, através da entrega, faz com que a palavra germine e frutifique; e por último a contemplação, para não mais raciocinar a palavra, mas vivê-la no silêncio.

Sendo assim, vamos a um passo a passo bem simples, mas eficiente, de como você pode usar a poesia do haicai para meditar.

Primeiramente, selecione alguns haicais que já proporcionam tudo isso através da sua simplicidade. Você pode pesquisá-los na internet e copiá-los em papéis separados, ou mesmo tê-los em um livro específico.

Em seguida, abra aleatoriamente uma página do livro. Leia e desfrute cada palavra de um dos poemas, procedendo aos passos descritos: Leitura – Entrega – Gestação – Contemplação. Volte às outras páginas após se sentir satisfeito ou satisfeita com a sua reflexão e escolha outro haicai.

Uma sugestão é escolher um haicai por dia para meditar, seguindo os passos descritos. O importante é não ter pressa e abrir-se para as possibilidades…

Viva! Você acaba de meditar.

Deixarei aqui na sequência duas sugestões: uma para quem deseja ter um livro inspirador e preparado exatamente para essa prática de leitura meditativa. Refiro-me ao meu livro Relicário Pessoal – haicais, um livro com 51 haicais distribuídos em 3 partes temáticas — Tempos e esperas, Flores e cores e Vida e contemplação —, cada qual representando um verso do poema. O livro conta ainda com 17 ilustrações em fotos autorais transformadas em desenho ao estilo grafite, obedecendo a seguinte ordem: 5 ilustrações na primeira parte, 7 ilustrações na segunda parte e novamente 5 ilustrações na terceira parte, sendo 1 a cada 3 haicais, o que totaliza exatamente o mesmo número de sílabas dos poemas.

Você pode adquirir o livro diretamente comigo no WhatsApp (33)98462-7055.

A segunda sugestão é para quem deseja se aventurar na escrita dos seus próprios haicais e meditar a partir deles. Para isso, tenho o E-book Haicai A Arte da Poesia – um guia passo a passo. Nele você irá encontrar, a partir de uma pequena história, o que é o haicai, a sua relação com as estações do ano e com nós mesmos, as métricas gramaticais e poéticas e, principalmente, informações para se aventurar em suas primeiras escritas e aprimorar as existentes de forma leve e com ilustrações que inspiram o fazer poético.

Você pode adquirir o E-book AQUI.

Mas ainda não acabou!

Existe uma história bem conhecida de um poeta que estava a andar na praia e a jogar estrelas do mar de volta na água. A praia estava lotada delas. Ao ser perguntado por que fazia aquilo, ele respondeu que era para salvá-las. Como a praia tinha centenas e centenas de estrelas, a pessoa disse que aquele era um trabalho inútil, pois não ia conseguir salvar todas. O poeta então se abaixou, pegou uma das estrelas do mar, a jogou de volta na água e então disse: “para essa eu fiz a diferença”.

Por que conto essa história?

Porque você pode fazer parte do Grupo Haicai a arte da poesia no WhatsApp. Neste grupo temos o desafio do 1 haicai por dia. Se todas as pessoas do mundo, e são bilhões e bilhões, escrevessem, lessem e trocassem uma poesia todos os dias, acredito que resolveríamos o conflito entre os povos. A poesia tem esse potencial pelo contato com o belo, com a harmonia da vida, porque é comprovado até pela física quântica que onde colocamos nossa atenção atraímos mais disso para nós.

Assim, no grupo, todos os dias, sem falhar um só que seja, inclusive sábados, domingos e feriados, cada pessoa que desejar pode postar 1 haicai, só um já é o suficiente. Quem ainda não os escrevem podem recebê-los como presente. O grupo conta ainda com outras ações sempre optativas como encontros de haicai esporadicamente. Todas as ações são gratuitas, porém há uma condição: a entrada no grupo é mediante a aquisição do E-book. O valor é muito acessível e é uma forma de manter o trabalho, disponibilizar o tempo, organizar os encontros quando tiver e o que mais for preciso. O link já está disponível, e caso seja do seu interesse ficarei muito feliz com a sua presença.

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Bem, espero que tenha gostado e desejo maravilhosos momentos de meditação a partir da arte da poesia.

Um forte abraço.
Até a próxima.

FUTURO INCERTO

Por António Alexandre*
(Angola)

Vejo tudo, vejo luxo no lixo.

Vejo, até hoje, bairros escuros com
crianças descalças, desnutridas e
inseguras.

Vejo buraco nas estradas e estradas no
buraco.

Sinto o cheiro da pobreza que me
circunda.

Vejo o meu futuro incerto na praia e
abraçado pelas ondas do mar.

Vejo tudo na tristeza porém vejo lá no
fundo uma certeza.

Uma luz intermitente na vindoura
firmeza.

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António Alexandre é angolano, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

10 PERFIS LITERÁRIOS QUE VOCÊ DEVE CONHECER PARA ONTEM

Em 2017, quando iniciei esse blog, publiquei uma matéria intitulada “8 sites sobre literatura que você deve conhecer para ontem” (você pode conferir AQUI).

Pois bem, passaram-se 7 anos e me vejo novamente no desejo de publicar essa matéria, porém revisada e acrescida, não apenas de sites, mas de perfis e canais que ao longo desse tempo fui conhecendo e colecionando.

Mas não só por isso!

O caminho da literatura é amplo e muitas são as pessoas que realizam realmente um trabalho magnífico, e como é maravilhoso poder me referir a muitos como amigos e amigas.

Sim, quando publiquei pela primeira vez a matéria mencionada, não conhecia muitas das pessoas que aqui estão hoje, todas elas presentes diretamente na minha vida literária, ensinando, trocando e vibrando a mesma paixão pelas histórias, pelos livros, pelos autores e autoras. Pessoas as quais nos encontramos sempre de forma presencial, virtual, trocamos textos, dúvidas e fazemos da literatura uma festa!

Como eu disse naquela ocasião, eu poderia simplesmente pegar aqueles mais procurados. Mas de novo não farei isso. Primeiro, porque nem sempre os mais procurados ou famosos são os melhores. Existem muitas pérolas escondidas dentro de muitas ostras “comuns”, que, às vezes, não contam com um mar assim “tão recheado” de recursos… Foi essa a justificativa dada.

E acrescento aqui uma segunda: trago não somente o que eu conheço e uso, mas quem, juntamente comigo, é um desbravador e desbravadora dessa paixão chamada literatura; pessoas amigas, sim, amigas, que sabem do valor que é trabalhar e incentivar constantemente a presença dessa arte nas vidas das pessoas; gente incansável que pensa além de si mesmas e entregam o melhor em prol de uma causa.

E também como eu disse há 7 anos, para mim estes perfis são os melhores — hoje eu sei — e essa galera manda muito bem!

Vamos lá!

# 1 – Ler é criar asas
https://www.youtube.com/@PauloFernandeseducador

Ler é criara asas é um canal do youtube que desde 2012 realiza indicações de dicas literárias, com intuito de contribuir para pais, mães, professoras e professores na escolha de livros para crianças. Durante esses 12 anos o canal contou com diversas parcerias de editoras e ainda conta. São mais de centenas de livros, além de vídeos com temas importantes para infância e adolescência. O canal é administrado magistralmente pelo escritor, contador de histórias e ativista literário Paulo Fernandes, e atualmente os vídeos contam com a participação especial do seu filho Antônio, conhecido como Tonico Poesia, e são postados todas as segundas-feiras.

# 2 – Pierre Conta Contos
https://www.youtube.com/@PierreContaContos

Pierre Conta Contos é um canal onde o narrador aparece interagindo com o público, onde a maioria das histórias são contadas de memória e algumas são mediadas, mostrando os livros e suas imagens.

# 3 – PodContos do Pierre André
https://www.youtube.com/@PodContosdoPierreAndre

PodContos do Pierre André é um podcast onde as histórias são narradas ao pé da letra apenas com o áudio das histórias e imagens das capas dos livros, sendo algumas criadas pelo próprio autor.

# 4 – Ricontar Histórias
https://www.youtube.com/@ricontarhistorias9462

O canal Ricontar histórias nasceu em 2021 oriundo da página criada com o mesmo nome em 2017, com o objetivo de tratar de forma leve e lúdica, através da arte de contar histórias, temas como inclusão, acessibilidade, diversidade e aceitação no sentido amplo das expressões. O canal é administrado pelo escritor, jornalista e contador de histórias Ricardo Albino.

# 5 – Vira e mexe tem história
https://www.instagram.com/viraemexetemhistoria/

O Vira e mexe tem história é o canal da professora e contadora de histórias Rosi Amaral, que te convida para viajar pelo mundo da fantasia, da imaginação, da alegria e do desenvolvimento pelo gosto da leitura.

# 6 – Revista Cerrado Cultural
https://revistacerradocultural.blogspot.com

Cerrado Cultural é uma revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler. Todas as opiniões expressas na revista são de responsabilidade dos autores e são aceitas colaborações, bastando enviar os textos para o contato: cerrado.cultural@gmail.com.

# 7 – Infortec Lança
https://www.youtube.com/@infortec.posling

Como parte do Infortec – Núcleo de Pesquisa em Linguagens e Tecnologia, encontra-se o Infortec Lança, cuja meta principal é o lançamento de livros no âmbito da literatura, sobretudo a brasileira. Essa derivação adveio da necessidade de se dar vazão à produção literária, com lançamentos virtuais de obras de vários autores, durante o período pandêmico, tendo uma periodicidade mensal, normalmente na penúltima segunda-feira de cada mês, a partir das 19h30, via Stream Yard. Com quase três anos no ar, felizmente permaneceu e permanece após o término da pandemia. A apresentação é realizada majoritariamente por Mônica Baêta – MoBa, egressa do Cefet-MG, instituição na qual de doutorou.

# 8 – Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO https://www.youtube.com/@academiadeletrasdeteofiloo9599

Canal da Academia de Letras de Teófilo Otoni, onde são divulgadas as ações da Academia, como sessões solenes, lançamentos de livros, lives literárias, saraus, concursos e salas de leitura, envolvendo seus membros titulares e correspondentes por todo o Brasil e em outros países.

# 9 – Canal do Grupo de contadores de histórias da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte – BPIJBH
https://www.youtube.com/watch?v=I_FFw5Jldl4&t=1743s

O canal do Grupo de contadores de histórias da BPIJBH é recente e tem a intenção de postar sempre as historias que são contadas durante os encontros. O primeiro vídeo conta a história da criação do grupo. Vale a pena conhecer.

# 10 – Árvore das Letras
https://www.youtube.com/@arvoredasletras

Não poderia terminar essa lista sem mencionar o próprio canal da Árvore das Letras no You Tube, claro!!! Nele são vinculados conteúdos literários como histórias, entrevistas, crônicas, contos, poesia, cartas, dicas, de forma a trabalhar a questão inclusiva a partir de vídeos áudios ampliando, assim, o acesso a todos os públicos.

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E então, gostou da lista?

Você, certamente, conhece alguém que adoraria conhece-la também!

Então, como disse há 7 anos e volto a dizer,  compartilhe esse artigo e deixe a literatura “navegar” por outros mares…

Ah, e se tiver alguma indicação, escreva aqui nos comentários para que eu procure conhecer e divulgar aqui no blog! 

Um forte abraço!

Até a próxima.